Sessão 15/21
Página 2/7 O que a pesquisa nos diz sobre os que deixam o sistema de acolhimentoO que a pesquisa nos diz sobre jovens que saem do sistema de acolhimento
COMPREENDENDO A TRANSIÇÃO DO ACOLHIMENTO PARA A VIDA ADULTA COMO UM PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO A LONGO PRAZO
Pesquisas globais sobre o sucesso ou fracasso de jovens após saírem do sistema de acolhimento mostram que este é um momento muito crítico para eles. Para muitos que viveram sem um cuidado afetuoso em um ambiente protegido, seu retorno ou transição para a sociedade e para sua cultura de origem é uma experiência extremamente desafiadora. Embora muitos consigam se estabelecer, um número significativo acaba sem moradia, em desemprego prolongado ou envolvido em atividades criminosas.
Precisamos ouvir as experiências desses jovens: eles dizem que a transição para a vida adulta na comunidade acontece de forma muito abrupta. Costumamos pensar na saída do acolhimento como uma mudança única, da proteção para a vida independente. Porém, como disse um pesquisador africano, essa ideia não se mostrou útil. Isso porque a independência na juventude só pode ser alcançada com preparação desde o início do acolhimento e com a construção de uma nova rede social interdependente após a saída.
A saída do acolhimento é um processo de longo prazo. Em entrevistas, esses jovens pedem um plano de longo prazo, com preparação desde a infância e mais apoio após a saída.
Nesta sessão, você será apresentado a conhecimentos e ideias para as três fases – desde a infância até o período após o acolhimento. Você pode optar por elaborar um plano de trabalho para cada fase ou focar em apenas uma, dependendo da sua situação. Para planejar a melhoria da preparação e do apoio, precisamos primeiro identificar: Quais são os desafios para os jovens que saem do sistema de acolhimento na África Oriental?
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COMPREENDENDO OS QUATRO PRINCIPAIS DESAFIOS PARA OS JOVENS QUE SAEM DO SISTEMA DE ACOLHIMENTO NA ÁFRICA ORIENTAL
Nossas entrevistas com jovens que saíram do sistema de acolhimento e pesquisadores africanos identificaram quatro grandes desafios que esses jovens pedem ajuda para superar:
- Eles precisam de ajuda para se separar das mães SOS ou pais de acolhimento e de apoio de outras pessoas que os orientem após o acolhimento.
- Eles precisam aprender habilidades práticas do dia a dia desde a infância.
- Eles precisam de ajuda para encontrar um emprego e um local para morar.
- Eles precisam de apoio para se conectar com redes comunitárias: como se reconectar com a família de origem, com assistentes sociais, com locais de trabalho e com outros jovens que saíram do acolhimento.
Em pesquisas e entrevistas, essas são as perguntas que nos fazem:
“Como deixo minha base segura e enfrento a separação?”
Os fatores mais importantes para o sucesso na vida após o acolhimento são: crescer com um forte comportamento de apego às mães ou pais de acolhimento e laços com irmãos e amigos. Para os jovens, dizer adeus a essa base familiar é um grande desafio. O trauma da separação vivido na infância pode ressurgir, gerando elevada ansiedade de separação e estresse.
Como disse um jovem africano que deixou o acolhimento:
“Tudo ficará escuro e eu terei medo. Cheio de tristeza… Me sinto mal comigo mesmo sempre que penso no futuro.”
Após saírem do acolhimento, muitas vezes os laços emocionais de longo prazo com cuidadores e professores são perdidos. Jovens relatam resignação e solidão quando as mães SOS se aposentam ou quando a família de acolhimento passa a cuidar de novas crianças.
Eles precisam de orientadores, mesmo depois da saída do acolhimento.
“Aprendi habilidades práticas do dia a dia antes de sair do acolhimento?”
Crescer em um ambiente protegido é positivo para o modelo interno de funcionamento, o desempenho escolar e o desenvolvimento social. No entanto, muitos desses jovens foram apenas cuidados na infância, sem envolvimento ativo nas tarefas diárias.
Quando retornam à sociedade, muitos enfrentam dificuldades para cumprir compromissos, gerenciar uma conta bancária, planejar um orçamento, escrever uma candidatura de emprego, cozinhar ou usar transporte público. Embora os jovens das Aldeias Infantis SOS tenham melhor desempenho escolar do que a maioria dos jovens que saem do acolhimento (oito em cada dez passam no exame da 9ª série, e 14% possuem diploma acadêmico), muitos enfrentam dificuldades significativas para administrar as tarefas do dia a dia.
Eles precisam aprender habilidades básicas de vida muito antes de sair do acolhimento.
“Conseguirei meu primeiro emprego e um lugar para morar?”
Segundo o Banco Africano de Desenvolvimento (2016), 12 milhões de jovens entram no mercado de trabalho anualmente, mas apenas 3 milhões de novos empregos são criados. As altas taxas de desemprego juvenil são um grande desafio para os jovens que saem do sistema de acolhimento na África Oriental.
Mesmo com boas notas, encontrar um emprego que cubra as despesas diárias é difícil. Trabalhar em vilarejos ou favelas muitas vezes exige uma formação profissional em ofícios práticos (soldagem, marcenaria, reparo de automóveis, vendas de rua, etc.), que deveriam ter sido aprendidos na adolescência.
Eles precisam de treinamento prático na adolescência para ocupações necessárias e úteis na comunidade.
“Como me conectar com as redes sociais da minha nova comunidade?”
Os jovens relatam que a transição para a vida independente na comunidade pode ser avassaladora. Mesmo com a preparação existente, eles frequentemente se sentem sozinhos e desprotegidos, sem saber como se conectar com a nova comunidade ou como reencontrar a família de origem.
Eles precisam de ajuda para construir novas redes sociais na comunidade e de conselhos para se manterem seguros.