Sessão 17/21
Página 3/9 Compreendendo e respeitando as crianças na ruaCompreendendo e respeitando as crianças em situação de rua
POR QUE TANTAS CRIANÇAS DECIDEM VIVER NAS RUAS?
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Pesquisas mostram que cada vez mais crianças escolhem viver nas ruas. A maioria delas tem entre 5 e 16 anos de idade. Na África Oriental (e em diversas partes do mundo), muitas pessoas abandonam suas aldeias e se mudam para grandes cidades. Esses novos ambientes urbanos geram estresse para as famílias ampliadas e afetam sua capacidade de oferecer cuidado, amor e proteção às crianças.
A pobreza e o desemprego (agravados pela pandemia de COVID-19) aumentam o estresse parental. Esse estresse sobre as famílias leva ao aumento da violência doméstica, divórcios, vícios, evasão escolar e gravidez na adolescência. Estudos nacionais recentes mostram que aproximadamente metade de todos os adolescentes na Tanzânia e no Quênia já sofreram violência de parentes e/ou figuras de autoridade. Uma em cada três meninas na Tanzânia e no Quênia relatou que sua primeira experiência sexual foi forçada. A pobreza, os conflitos conjugais e o estresse familiar fazem com que muitas crianças e adolescentes fujam de casa.
No entanto, muitas crianças em situação de rua ainda têm pais vivos. Em Ruanda, mais da metade das crianças que vivem nas ruas têm pais.
Um exemplo: Um grupo crescente de crianças em situação de rua são adolescentes filhos de mães solteiras. Muitos adolescentes fogem quando a tradição familiar exige que assumam as obrigações de um pai ausente ou falecido, sendo responsáveis pelo sustento da mãe e dos irmãos mais novos.
O ex-menino de rua Mugabo relata:
“Eu tinha quatro irmãs e cinco irmãos mais novos. Éramos muito pobres, e apenas minha mãe cuidava de nós. Eu trabalhava o dia todo coletando lixo. Quando ela morreu, eu tinha doze anos. Meus parentes disseram que herdariam tudo o que minha mãe deixou e que eu deveria seguir a tradição e sustentar meus irmãos mais novos. Eu sabia que isso seria impossível para mim, então, com o coração sangrando, fugi. Agora tenho dezessete anos e moro na rua. Todos os dias penso em minhas irmãs e irmãos.”
POR QUE É UM DESAFIO TRABALHAR COM CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE RUA?
Crianças em situação de rua são frequentemente vistas por autoridades e pela sociedade como pobres vítimas ou como criminosas. Essas crianças muitas vezes são referidas de forma pejorativa.
A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança afirma que crianças em situação de rua têm os mesmos direitos que qualquer outra criança: acesso à saúde, proteção, nutrição e educação. No entanto, para a maioria delas, esses direitos estão longe da realidade, e elas precisam lutar pela sobrevivência todos os dias. De fato, essas crianças devem ser admiradas por sua inteligência, criatividade e espírito que as ajudam a enfrentar a vida sem pais, muito antes de sua infância acabar. Elas superam inúmeros desafios diariamente: a perda dos pais, a fome, o preconceito e todos os perigos da vida nas ruas. Algumas se tornam criminosas para sobreviver, mas ainda assim têm necessidade de cuidado.
A reabilitação e a vida em uma família de acolhimento podem ser desafiadoras porque essas crianças não confiam nos adultos e estão fortemente ligadas aos contatos que têm nas ruas. Como uma criança disse: “A rua é minha mãe e meu pai”. Muitas tentativas de oferecer ajuda falham devido a essa falta de confiança, e as crianças frequentemente fogem de famílias de acolhimento ou centros de reabilitação. No entanto, se as compreendermos e as respeitarmos, podemos reconstruir sua confiança em cuidadores, passo a passo.
DISCUSSÃO EM GRUPO
10 minutos
- Como as crianças em situação de rua são vistas pelas autoridades e qual é a opinião pública em nossa comunidade?
- Conhecemos exemplos de crianças em situação de rua que conseguem sobreviver apesar das circunstâncias adversas e da falta de cuidado amoroso?
- Como as crianças respondem a nós quando tentamos recuperar sua confiança em adultos?