Sessão 17/21

Pesquisas da África Oriental mostram que é difícil fazer contato direto com crianças das ruas devido às suas experiências traumáticas anteriores com adultos. Além disso, elas não permanecem muito tempo no mesmo lugar. Crianças em situação de rua circulam entre várias pessoas e só permanecem enquanto suas necessidades imediatas são atendidas. Em um momento, elas buscam um grupo de amigos; no outro, conseguem um pouco de comida de um adulto ou encontram um lugar para dormir. Esses contatos rápidos são como um quebra-cabeça que substitui o cuidado parental.

Ganhar a confiança de uma criança das ruas é um processo longo. Um bom começo é criar relações com pessoas nas ruas que já conhecem as crianças: vendedores ambulantes, policiais, mecânicos, prostitutas, jovens que são líderes informais de grupos de crianças nas ruas e outras ONGs que atuam nas ruas. Se você for aceito por essas pessoas, elas o ajudarão a identificar as crianças que mais precisam de ajuda e a apresentá-las a você. Dessa forma, você pode conscientizar toda a comunidade para encontrar e ajudar as crianças que precisam de reabilitação.

CONTATOS COM PESSOAS NAS RUAS

O suporte social mútuo é frequentemente muito alto em áreas de favelas, proporcionando apoio às crianças por meio de suas redes de contatos nas ruas. Por exemplo, na Tanzânia, crianças realizam pequenos trabalhos em troca de comida com vendedoras ambulantes conhecidas como “Mammas”. Sungura, de dez anos, sobreviveu roubando, mas depois encontrou outro caminho:
“Decidi trabalhar para uma mulher que vendia alimentos – eu a chamo de Mãe Mtilie. Lavo os pratos dela, busco água, e ela me dá comida em troca. Às vezes, ela me dá um pouco de dinheiro. Quando eu estava doente, ela comprou remédios para mim. Ela é a pessoa mais decente que conheci.”

Os grupos de crianças nas ruas têm dois lados: Por um lado, a fome e a falta de cuidado podem forçar as crianças a formar gangues criminosas que roubam, cometem ataques violentos, traficam drogas, abusam sexualmente de seus membros mais fracos, etc. Por outro lado, grupos de crianças nas ruas também protegem seus membros, trocam informações vitais, cuidam dos doentes ou dos mais jovens e alertam uns aos outros sobre perigos.

Você deve ser tolerante e entender que elas só cometem crimes porque perderam o cuidado e a orientação de pais que estavam ausentes. De qualquer forma, uma criança sem pertencimento a um grupo de colegas nas ruas não sobrevive por muito tempo.

Os líderes desses grupos são frequentemente adolescentes ou jovens com muitos anos de experiência nas ruas. Como outros líderes, eles organizam a vida cotidiana e estabelecem regras para o trabalho em grupo. Kamangu compartilha sua experiência de liderança:
“Para estar na rua, é preciso ser maduro e forte, é preciso seguir as regras que fazemos uns para os outros. Caso contrário, é melhor viver nos centros. A rua não é para crianças fracas.”

Na idade adulta, algumas dessas crianças se tornam agentes importantes de mudança em suas comunidades, transformando suas experiências negativas em iniciativas sociais responsáveis.

• Quem são os importantes líderes de grupos de crianças nas ruas em nossa comunidade?
• Como podemos contatá-los e ganhar sua confiança?
• Como podemos demonstrar respeito por seu cuidado e liderança e obter seu apoio?
• Quais pessoas em organizações religiosas ou comunitárias locais trabalham com crianças em situação de rua? Devemos convidá-las para uma reunião conjunta ou visitá-las onde trabalham?